A adoção no cinema.



O cinema sempre foi um terreno fértil para temas envolvendo a adoção. Inúmeros personagens são adotados, heróis ou vilões, protagonistas ou não. O assunto muitas vezes nem é a temática principal, mas serve como pano de fundo para histórias de sucesso.

Só para citar alguns exemplos, temos o Clark Kent, o Superman, adotado aqui na Terra depois que seu planeta é destruído nos confins do Universo. Este ano, “Lion” disputou o Oscar de Melhor Filme e chamou a atenção para o tema ao mostrar a busca de um homem pela família biológica. Temos ainda filmes envolvendo adotados como um dos mais famosos clássicos do terror, “A Profecia”, além de “Arizona Nunca Mais” e “Poderosa Afrodite”. Também cito como importantes “Juno”, “O Garoto da Bicicleta” e “A Estranha Vida de Timothy Green”.

A adoção pode transformar pessoas, por mais “diabólicas” que elas possam ser. Vimos isso no divertido “Meu Malvado Favorito”, onde as órfãs Agnes, Margo e Edith conquistam nossos corações e claro, do “terrível” Gru.
Poderia falar aqui de mais e mais e mais filmes. Prometo fazer uma listinha e divulgar aqui no site em breve. O objetivo neste texto é falar de apenas um, e de como esse filme me tocou.

Quando pensamos ter visto de tudo no cinema e que nada mais pode nos surpreender, eis que me deparo com “Minha Vida de Abobrinha”. A animação francesa, realizada em stop motion, concorreu ao Oscar ao lado de produções milionárias como Zootopia e Moana. Este que aliás, também tem a adoção com um dos subtemas: o semi-deus Mauí foi adotado pelos deuses depois de ser abandonado pelos humanos (daí sua obsessão por agradar os mortais).

De início não me interessei. Vi apenas o título e, confesso, achei que era apenas mais um dessas inúmeras comédias estilo programa de TV, que tanto lotam os cinemas e que não me agradam nem um pouco. Mas depois, sem querer, vi do que se tratava.

Abobrinha é um menino de nove anos que vai para um orfanato depois da morte da mãe, alcoólatra. Lá conhece outras crianças, cada qual com um problema: um com pais drogados, outra com a mãe refugiada e deportada, outro com familiares doentes, uma vítima de abuso e por aí vai. Todos, a princípio, à espera de um novo lar. Ou apenas à espera de uma carta, de um carinho…

“Somos todos iguais. Não há ninguém para nos amar”, chega a dizer Simon, uma das crianças do local.

Não espere uma animação repleta de ação, redenção ou alegria tão comuns nas animações de Hollywood. Para se ter uma ideia do quão duro é o filme, cada vez que um carro chegava ao abrigo, uma das garotas aparecia gritando pela mãe. A frustração dela é como um soco no estômago. A única recordação que Abobrinha carregava da mãe era uma lata de cerveja vazia.

O que a gente vê aqui é uma animação que nos faz refletir e que muitas vezes é dolorosa, apesar de toda sua graça. Terminei de assistir com um nó na garganta, uma sensação que misturou alívio, esperança, tristeza e alegria.

Acho que para todos aqueles que já estão na fila ou que pretendem adotar uma criança, “Minha Vida de Abobrinha” é indispensável. Minha sensação, assim que acabou o filme, foi olhar para Luísa, que dormia profundamente, sorrir, lhe dar um longo e carinhoso abraço e sussurrar.

“Aconteça o que acontecer, estamos aqui. Te amamos”.

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